Ainda
bem que o carnaval terminou! Tudo bem que o carnaval é a catarse em que o povo
brasileiro oprimido bota seus diabinhos pra fora. É como se tudo fosse
permitido, inclusive assaltar e assassinar. Mas, nesses dias de momo, era preciso
paciência para aguentar tantos idiotas vivendo a farsa da alegria.
São
longos quatro dias que a vadiagem insiste em esticar no rastro de trios
elétricos tocando música péssima, ouvida e cantada por um magote de gente boba
que sai pulando num histerismo sem parâmetro na história da humanidade. E tudo
começa com um tal de mela-mela de goma e spray colorido, quando o jovem
estudante, a recatada dona de casa ou o sisudo cidadão se transformam no bloco
em desfile pela avenida das "celebridades" em busca do troféu dos
alienados.
E
quem disser que não foi assaltado nesse carnaval é mentiroso. O sujeito pode
até ter se safado dos trombadinhas, o que acho quase impossível, porém, não
conseguiu escapar dos absurdos preços que lhe foram cobrados pelos hotéis,
bares, táxis etc. E não caia com uns trocados para a dupla que se diz da
polícia para ver o que lhe acontece! Aí você está lascado.
O
carnaval e o excesso de seus componentes aparvalhados são o atestado de que a
nação brasileira não persegue um projeto político e social com seriedade. Nesse
quesito, o sistema capitalista é cruel: ele dá a entender, num “mundo de faz de
contas”, que o povo é livre nos quatro dias para, em seguida, como vingança,
escravizá-los durante o ano inteiro. Ou seja, a fantasia de rei e rainha
somente em fevereiro, nos demais meses, muito trabalho e banzo para a ralé.
Aqui
devo confessar, caro leitor, que beirando os sessenta anos, trinta e cinco de casado,
pai de família até então exemplar, trabalhador e cumpridor dos seus deveres,
caí na tentação, pois a carne é mesmo fraca. Esbaldei-me no carnaval! A culpada
foi uma sensual mulata de entortar quarteirão e fazer erigir uma, ou melhor,
várias torres gêmeas. A propósito, preciso verificar o extrato de minha conta
bancária...
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